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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O SIGNIFICADO DO CORPO NA FILOSOFIA

Por: Gyselle Trindade, Marisa Sousa, Renata Bezerra, Thiago Peres e Tiago Luz

A filosofia procura estudar o corpo como algo que se comunica e se faz presença no mundo. Ao mesmo tempo em que o ser humano possui um corpo, ele também é um. O corpo acompanha nossas existências como seres carnais, com todos nossos desejos, vontades, manifestações, expressões capazes de revelar nosso comportamento ético, a partir de nossas escolhas e opções.

O caminho de compreensão da filosofia é mais longo, partindo do concreto para o abstrato e depois retorna ao concreto tentando superá-lo, fazendo com que se torne um processo sem fim, dando-nos respostas capazes de propor alternativas diferentes de superação dos problemas relacionados ao corpo, abarcando uma série de outros novos problemas, como os de dignidade e identidade.

A relação que ocorre em cada indivíduo com seu próprio corpo e com o corpo do outro, colaboram com a construção do indivíduo, condicionando o seu existir no sentido moral da vida, de acordo com o contexto sócio-político de cada um. Ou seja, cada cultura constrói corpos segundo suas regras. Sendo assim quando o indivíduo através de um gesto corporal se expressa, revela-nos sua intenção para com ele mesmo e para com o outro, o que ajuda neste processo de construção.

Cada indivíduo se reconhece como um ser capaz de construir se relacionando, tomando decisões espontâneas ou não, condicionando-se a existir no sentido moral da vida.

Cada gesto revela minha intenção para com meu corpo e para com o corpo do outro, contradizendo minha existência e me fazendo crescer.

Através de uma reflexão de caráter científico tendo como suporte, filósofos e cientistas sociais, que fazem de suas reflexões um ato de compromisso social; o “corpo” ganha sentido em nossa sociedade pela sua ambiguidade.

De um lado temos a valorização ou divinização do corpo, visto como um templo capitalista, um corpo saudável que encontramos em muitos lugares; nas salas de ginásticas, massagens, clubes, spas, alimentos especiais. Do outro, encontramos a negação ou aniquilamento do corpo, o corpo reprimido, castrado, assassinado visto em favelas, cortiços, fábricas, ocupações.

Num mundo capitalista em que vivemos o corpo ao mesmo tempo em que é venerado, é negado, quando essa construção exterior não acontece e não obedece as determinações do mercado, o corpo acaba por não pertencer à pessoa e sim aos disfarces do mundo, através de todos os ajustes necessários na tentativa de se auto valorizar a partir das regras impostas pela sociedade.

Dentro de uma sociedade que se apoia em aparências é inevitável a transformação do corpo em objeto. Outrora os homens davam-se como mercadoria em troca de salário que o grupo capitalista lhes oferecia, hoje a pretensão é criar um processo destruído do corpo, como objeto consumidor e consumível.

Como refletir sobre a expressão viva do corpo numa sociedade objetificada e objetificante como a nossa?

A presença do corpo é constante em nossa sociedade representando certo significado, sinal, código; basta olharmos ao nosso redor, nos outdoors, revistas, jornais. Graças à industrialização, urbanização, amplia-se o mercado consumidor.

Há também uma associação do corpo com a estética, a busca pelo corpo ideal, nos revela a expressão simbólica do tipo de relação que mantemos com o nosso corpo, ou seja, a função que lhes atribuímos. O corpo representado como sinal de status, apenas símbolo, pois nunca é dissociado da pessoa que o habita. Hoje os padrões de beleza que a sociedade impõe equivale ou até mesmo supera, em alguns casos, a posse de outros bens que poderiam ser atribuídos a status.

No âmbito moral nos preocupamos com o nu nos cinemas, revistas, mas nos desinteressamos pela nudez flagrante e marcante das favelas, prostíbulos. O corpo em si é manipulado, principalmente pela mídia em todas as suas esferas, inserido como um objeto comercial.

Uma infinidade de produtos promete transformar os corpos em um padrão de beleza estabelecido pela mídia, entretanto o corpo é assassinado por essa busca pela perfeição. Em suma as classes superiores tem maior acesso aos produtos que podem lhe tornar mais próximos do padrão estabelecido, aos indivíduos que não foram tão beneficiados pela natureza cabe à utilização de remédios para emagrecer, cremes, shampoos.

Às classes inferiores fica a vergonha por não pertencer a esse grupo, e concomitantemente o desejo de fazer parte de um grupo que não é o seu, mas que apresenta ideais que chamam a sua atenção e motiva seus esforços para negar o seu próprio grupo, por uma questão de bem estar próprio.

A mídia investe fortemente no corpo enquanto produto sexual, capaz de altos rendimentos, como é o caso dos empresários do sexo, que ganham dinheiro com a venda do corpo, revistas, sites, produtos eróticos.

O corpo acaba por não pertencer à pessoa, mas às regras e aos disfarces do mundo social.

No campo da saúde, as regras também determinam conduta, percebe-se pelos discursos médicos que tem feito da saúde, o bem último a conquistar. Não podemos negar esse discurso, mas devemos conhecer nossas fragilidades corporais quanto ao corpo “material”. O corpo também é possível a enfermidades, desvios de condutas, depressão moral, dentro de uma sociedade onde só se valoriza o “corpo saudável”, não são permitidas essas fraquezas. As ações do tempo, como o envelhecer, ficar doente e morrer são monstros a serem enfrentados com todas as armas. Por isso cada vez mais a medicina e laboratórios de pesquisas prezam a todo custo à saúde, fazendo-nos esquecer de ou fingimos que nos esquecemos de nossas limitações.

No campo dos desejos e sensações, somos uma alma viva em busca do prazer. Sexo é vida! Desperta sentimentos positivos, mas ao mesmo tempo, nunca se viu tantas pessoas doentes. Tudo é produzido artificialmente; o mercado cresce a cada dia, milhares de produtos mexem com a mente e o coração dos seres humanos. A sexualidade é algo sadio, que desperta sentimentos positivos, a partir do momento que é feito com um sentimento maior. Há forte relação entre o amor e o desejo sexual desde que consigamos alcançar o equilíbrio e não apenas transformar o corpo como um bem consumível.

Nota-se então que a mesma sociedade que idolatra e diviniza o corpo, mata e assassina o mesmo, ocorrendo o corporicídio. Falamos de uma sociedade construída por nós, onde é construída pela aparência. Uma sociedade necrófila que precisa matar o corpo para lutar pela vida.

Todas as ações e relações que construímos colocam sempre em xeque-mate nossa corporeidade. O corpo é a instância suprema do existir no mundo e lugar de toda moralidade não identificada. A partir de nossas escolhas, revelamos nossos comportamentos éticos.

Partindo do concreto, a filosofia procura sempre proporcionar discussões sempre mais próximas da verdade, chamando nossas atenções a esses seres inautênticos em que muitos estão se transformando, matando o seu corpo, numa sociedade que o idolatra.

Vivemos numa verdadeira ideologia onde a realidade é mascarada, uma sociedade onde manipuladores da consciência tomam as rédeas, acabando por desfigurar totalmente o ser humano.

As constantes lutas destacadas entre autores na Escolásticas, entre o bem e o mal, hoje ainda acontece, mas de forma diferente, com uma roupagem com sentido simbólico, onde os que lutam pela vida, os considerados belos em detrimento com os milhões que se encontram nas classes menos favorecidas não deixam de ter um gosto amargo de xenofobia.

Todas essas modificações sofridas pelo corpo são resultados das influências exercidas pelas indústrias culturais sobre as pessoas. Tudo para atender aos interesses capitalistas. E as classes mais populares também tem influência na sociedade?

Para essa pergunta devemos ponderar bem acerca da complexidade da situação.

Em 2006, o jornal Folha de São Paulo, noticiou a popularização dos penteados dreadlocks entre jovens da elite paulistana. Embora não seja privilégio só da classe mais favorecida, mas teve sua popularização aumentada depois de aderido pela elite.

O visual antes característico das periferias acaba difundindo-se em bairros nobres paulistanos como Jardins e Higienópolis, ganhando cada vez mais espaço. Com essa nova tendência surge também polêmicas familiares quanto a sua aceitação, devido ao choque cultural que ocorria; brancos com cultura de negros.

Inspirados em Bob Marley, no qual os costumes dessa cultura prega a igualdade de direito, justiça social, consciência e valorização das raízes africanas, além de autonomia de escolhas. Mas será que é realmente isso que os jovens querem nos falar quando aderem a esse penteado?

Bom, pode representar uma ruptura com o mundo capitalista; a luta pelos ideais propostos por Bob Marley, pode representar o início da nossa história, os nossos ancestrais, mas infelizmente nenhum dos sentidos acima são levados à sério, representa apenas mais um modismo que o mundo capitalista impõe, como muitos outros que afetam todos os setores da sociedade, sendo trocados logo mais, por um que venda mais.

Nota-se mais uma vez o corpo sendo usado apenas como ferramenta para expor nossos modismos.

Embora sendo visto como uma “coisa”, “objeto”, o corpo pertence ao indivíduo e o coloca em contato com o exterior. Nele nascem nossos desejos, sensações e emoções, por ele mostramos nossas morais. Ao mesmo tempo em que nos aproximamos do nosso corpo também nos distanciamos, nada se conhece sem o corpo.

Podemos concluir então que somos frutos do capitalismo, o mesmo capitalismo que valoriza o sentido do corpo pela aparência.

A filosofia procura desnudar a hipocrisia da sociedade e construir corpos conscientes, desprezando o corpo máquina e enaltecendo o sentido exato do corpo construído na sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Trasferetti, José. O corpo em questão; uma aproximação filosófica. Ver. Humanidades, Fortaleza, v.17, n.1, p.59-73, jan/jul. 2002.

Trasferetti, José. Corpo é cultura, no contexto da sociedade brasileira. Comunicação & Informação, v.11, n.1, p.126-137- Jan/Jun, 2008.

2 comentários:

  1. boa tarde Tiago
    Quem foi o seu professor nesse trabalho?? Estou fazendo sobre esse mesmo tema...

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  2. Professor André Luis de Oliveira

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