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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Construindo castelos de areia–Síntese

Construindo castelos de areia

Por: Prof° Tiago Antunes da Luz Neto

Referência Bibliográfica: Profº.; Me.; Dr. José Guilmar Mariz de Oliveira. Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo. Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, 5(1/2):5-11,jan./dez. 1991.

Breve introdução

O artigo em questão apresenta a escola como uma praia, onde cada disciplina é um castelo de areia. A educação física aparece como um castelo sem uma estrutura concreta e que por diversas vezes é arrastado pela maré quando a mesma sobe. O objetivo é buscar respostas para que a educação física consiga uma base sólida para se manter e ser respeitada como um componente curricular tão importante quanto os outros. Uma visão nebulosa que em muito é alimentada pelo contexto histórico relacionado à educação física até pouco tempo atrás.

Como os alunos enxergam a educação física?

Em pesquisas realizadas foi comum ouvir de alunos que passaram 11 anos na escola e não aprenderam nada em educação física,e ainda que muito pouco ou nada do que foi passado nas aulas de educação física é aproveitado. Inclusive uma professora em uma banca de mestrado comentou sobre as aulas de educação física na escola dizendo que a professora simplesmente “rolava” a bola.

Em um trabalho executado com o curso de licenciatura da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo o professor Guilmar solicitava aos alunos do 1º semestre que relatassem como eram suas aulas de educação física na escola, onde a maioria dos alunos respondiam que não era uma experiência muito agradável. Se não era agradável por que escolheram o curso então? Alguns responderam que era o curso superior mais fácil no momento, alguns até idealistas com o objetivo de ser um professor diferente do que o professor que lhe deu aulas.

Quando trabalhava na faculdade de educação de Sorocaba o Professor Guilmar realizou uma espécie de laboratório, onde da sala de aula se via a quadra de uma escola particular de alto nível, as aulas eram sempre no mesmo contexto de ensinar o movimento, por exemplo aulas de basquetebol: duas fileiras, driblar a bola, quicar a bola e tentar fazer a cesta em três tentativas no máximo, em uma aula de 45 minutos um aluno pegava na bola a cada 4 minutos. Qual riqueza de movimentos que esse aluno tem? Sem contar que os alunos não ficam quietos durante a realização da tarefa, desviando a atenção e fazendo com que a professora perdesse o controle da aula.

Como os alunos de outros cursos olham para o curso de educação física?

É comum os alunos de outros cursos do ensino superior questionarem sobre os conteúdos da educação física, perguntas como: O que vocês estudam na educação física? Existem textos ou livros? – Isso demonstra o quão nebulosa está a área da educação física, uma vez que esses estudantes permaneceram por no mínimo 11 anos na educação básica e tem uma visão tão sombria de nossa área.

Como os outros profissionais da educação se relacionam com nossa área?

Em 1982, 28 diretores da DRECAP 3 de São Paulo disseram que o maior problema que enfrentavam eram as aulas de educação física e se possível tirariam a disciplina do currículo o mais rápido possível. Talvez até pela falta de conhecimento da área ou mesmo pela falta de cooperação em prol de um todo. A ausência de profissionais para mostrarem a verdade da educação física também contribui para esse pensamento errôneo. A diferenciação do bacharelado e da licenciatura demonstra caminhos opostos e que muitas vezes são vistos como uma coisa só. É preciso que ocorra a valorização da licenciatura. Esses diretores que disseram-se contra a educação física colocam a disciplina em uma área marginal na escola.De certa forma com razão por que os próprios professores não participam dos eventos da escola, reuniões, etc. Talvez até pela própria deficiência da formação desses profissionais.

A educação física como disciplina, área de estudo ou atividade?

Muitas vezes defendemos a educação física como disciplina sem ao menos saber o que isso significa, nesse caso a “disciplina” assim como as outras necessita de um conteúdo próprio a ser ensinado e que esse conteúdo precisa ser construído historicamente. Ao pensar como atividade que é a situação atual, fica evidente que não necessita do licenciado para aplicação das aulas.

Esse processo virá através da construção do conhecimento, mas conhecimento em quê? A literatura mostra que o objeto de estudo da educação física ao longo do tempo vem sendo a expressão corporal, o movimento humano, a expressão corporal como linguagem. Inclusive utiliza-se de uma tradução errônea do termo em inglês "Movement Education", como “Educação do movimento”, entretanto o movimento não é educável. Quem é passível de educação é o ser humano, o ideal seria utilizar o termo educação para o movimento. O contexto de saber a importância de um determinado movimento para a vida do indivíduo. Isso só é possível se for entendido que agora eu “vou praticar” educação física.

O que é ensinado na escola?

Uma problemática recorrente na escola é que o aluno entra desde o 1º ano do ensino fundamental e aprende o voleibol, passa os 11 anos e continua aprendendo o voleibol é preciso definir o que ensinar do ensino fundamental até o médio.

O que ensinar e qual conhecimento avaliar?

Uma questão de suma importância é como avaliar o aluno? A quantidade de jogadores de um time de futebol? Será que esse é um conteúdo aprendido somente na escola? A dança? A ginástica?

A avaliação parte do momento em que o professor ensina as implicações políticas, ambientais, sociais, psicológicas, biológicas, econômicas, etc., que o ato de praticar uma determinada modalidade ou exercício pode promover, esse é um conteúdo que deve ser ensinado na escola. O lúdico é uma ferramenta riquíssima para a educação física, entretanto não inerente à educação física. Nossa área não ensina movimento, devemos ensinar as implicações desse se movimentar.

Diferente de outros países como os EUA por exemplo, a criança brasileira passa muito pouco tempo na escola, será que 45 minutos de aula seria possível para ensina-la o movimento? Fora da escola a criança, pula, salta, corre, brinca, dança, roda pião. Uma infinidade de tarefas que talvez a escola nao dê conta. E nós em nosso idealismo colocamos uma trave de 5 a 10 cm para que a mesma atravesse de uma lado para o outro, e a mesma não consegue. Fora da escola ela pula o muro, trepa em árvores, etc.

Educação física X esporte

Atualmente querem importar o modelo americano para a educação física brasileira, nos EUA a máxima é a formação de atletas, as escolas americanas têm suas necessidades básicas contempladas, tais como giz, quadro negro, salas de aula com carteira, sem goteira, livros, biblioteca, como alguns exemplos. Já no Brasil, talvez a escola seja o único lugar onde alunos de uma determinada região encontram uma quadra ou uma bola de voleibol por exemplo. Enquanto os alunos americanos passam das 08 as 15 na escola o aluno brasileiro se espreme de 3 a 4 turnos.

Responsabilidade da educação física

Não iremos resolver todos os problemas da escola sozinhos, buscamos essa justificativa de proporcionar a socialização, pelo senso crítico e pela cidadania, pelo fato de não ter uma essência de conhecimento específico. Todas as disciplinas devem promover a socialização, o senso crítico, a cidadania e tantos outros aspectos. Um trabalho de mestrado demonstrou que em comparação de quem participa das aulas de educação física e de quem não participa, não houve diferença no que se refere à socialização.

Conclusão

Devemos direcionar nossos esforços para encontrar os elementos necessários para consolidação do nosso castelo, antes que não exista mais o mesmo, ou até mesmo nossa praia. A partir da nossa significância individual e a interrelaçao entre os castelos para evitar que a praia seja poluída e não mais utilizada para fins não tão necessários e nobres.

Muitas das decisões não nos cabem, entretanto nossas respostas serão fundamentais para definições futuras.

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